Vestido de maneira simples, apenas a bermuda jeans e uma camiseta vermelha.
16h30.
Ele estava ali, próximo à escadaria, no quarto andar. As janelas abertas traziam para dentro daquele lugar a brisa anunciando a chuva. Ele acaba de ser avisado pelas ondas internas sobre seus próprios medos.
Com o olhar, ele parecia percorrer, desbravar aquela linha do horizonte. Como se já não bastasse ter se perdido por muito tempo, aqueles caminhos, outrora tão conhecidos e frequentemente visitados, pareciam não ter mais toda aquela mágica de antigamente. Mesmo assim, seus olhos pareciam estar magnetizados sem sentido frente àquela linha horizontal, divisa entre a terra e o céu. Ou, para ele, entre o céu terreno de ilusões e as nuvens, reino de uma terra mais real do que se pensa, cujo acesso se dá por quem se deixa enlouquecer naturalmente e não se culpa por isso.
Por um instante, sugou o olhar do horizonte. O copo já estava cheio com a água do bebedouro. Em breve, o horizonte estaria cheio com a cortina pluvial, fechando mais um ciclo diário.
Depois do primeiro gole, os olhos voltam a viajar novamente. A cabeça se inclina levemente para o lado, criando a curva no pescoço alongado dele. Os cílios, de forte presença no olhar, acobertavam o que se escondia dentro da própria alma. A boca, entreaberta, num clima de absorção total e privação de um auto-controle, de um vermelho mais forte do que o comum, parecia querer dizer alguma coisa, mesmo parada, estática. Como um portal, apenas esperando que as palavras entrem sozinhas por ali, ao invés de sair.
Embora os cílios fossem o portal de chumbo para guardar os destesouros sentimentais dele, uma lágrima escorreu. Nela se refletiu o voo de um pardal distante no céu. Contudo, nesse momento, ele parecia estar o mais próximo possível. Mais próximo do que a própria pele.
Os olhos já não conseguiam mais esconder. O rosto já tracejava toda a mistura de sentimentos possíveis daquele milésimo de segundo. Perdido entre as próprias convicções, ele decidiu alçar o voo com o pardal. Foi para as nuvens e permaneceu no brilho do sol, mesmo com as raízes na terra.
É contagiante este tipo de escrita! Te leva junto com o personagem, por um ou dois minutos absorvi sensações, a imensidão do céu apareceu em minha mente como se estivesse olhando com os olhos de quem viveu o momento. Lindo Igor! A lágrima que escorreu, imagino eu,estava sobrecarregada de decisões, de dúvidas, de "quereres". Obrigada por este momento...
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