sábado, 8 de novembro de 2014

Escritura 1 - Paraíso verde perto do mar

View of Yuigahama Beach Elfen Lied
Retirado de: http://punynari.wordpress.com/2010/01/09/elfen-lied-anime-pilgrimage/
Sempre ao escutar aquele toque de flauta, ela imediatamente se deixava envolver pelas linhas imaginativas que, junto com seus cabelos dourados, rodeavam a sua cabeça, assim que a brisa estival e fantástica a envolvia pelas eras infinitas.


Ela desceu a ladeira da pequena cidade perto do mar. Cidade montanhosa, com florestas tão brilhantemente verdejantes... o contraste com o azul turquesa do mar a fazia acreditar firmemente que aquela costa era uma pequena caixa de tesouro cravada na areia da praia.

"O que uma menina de 17 anos quer para a sua vida, continuando nesse lugar escondido do mundo?", repetia incessantemente a sua tia, querendo se livrar da inveja que ela possuía acerca da união da família da garota.  As palavras pareciam passar na frente dos olhos da jovem, sem se importar em se obrigar a dar uma resposta. Afinal, quem ia a entender do mesmo...?
Continuou a descer a ladeira, íngreme, mas que do alto, e até mesmo durante a descida, oferecia uma vista espetacular sobre as belíssimas casas de madeira da cidade, perfeitamente encaixadas à encosta íngreme das montanhas do litoral, sobre as outras ruas, nas quais as crianças dividiam o seu jogo de bola com o voo das gaivotas, sobre a verdejante floresta cobrindo a cidade com a mensagem das suas folhas, tal qual como numa cerimônia de casamento, quando os casados recebem seu desejo de boa sorte com uma chuva de arroz. Vista sobre a praia, sobre as águas cristalinas, e sobre o infinito horizonte azul. E sobre o castelo de nuvens navegando sobre o mundo...
De maneira delicada e como em passos de balé, ainda levantando o vestido branco e fino, que oferecia uma sensação de conforto, de leveza e de liberdade indescritíveis, ela deu tracejados passos ao subir os degraus para entrar em casa. Nesse fim de tarde, quando as nuvens começavam a ficar um pouco douradas, o ouro solar se refletia nelas; por sua vez, as nuvens, sem avareza, cobriam a cidade com esse brilho amarelado, dando à cidade uma espécie de sonho de pintura viva nesses tons de amarelo.
O portão soltou o seu tom de ferro; sem nenhuma pressa, com as mãos finas, ela decidiu fechar o portão como se não quisesse se despedir da ladeira e da vista espetacular, embora soubesse que todos os dias estaria lá de novo.
O cheiro do café se misturava ao aroma das flores que adornavam a cerca à frente da casa, de cerca de 1 metro. O nariz perseguia tal aroma. 

- Minha filha, se perdendo na paisagem de novo?
- Não, mãe. A paisagem andou se perdendo dentro de mim mesma...

A cozinha, de paredes verde-claras, era o espaço perfeito para os móveis de madeira de cor escurecida. A mesa de quatro lugares, na frente de uma enorme janela de maneira pintada de azul e que oferecia a vista para o mar e para a praia, ainda localizados a vários metros ladeiras e escadarias abaixo, agora era dividida pela mãe e pela filha. O brilho do sol, refletido no mar, agora se refletia na cozinha. As paredes pareciam o próprio mar, com o reflexo transparente.
De repente, num lapso de memória, ela parecia se lembrar de algo. Imagens de rostos conhecidos e um sentimento profundo invadiram o seu corpo por inteiro. "Mas como lembrar de algo que nunca aconteceu? E como sentir essa grande força por pessoas que não conheço?".
Deixou as perguntas guardadas dentro de si mesma.
Depois do último gole de café e de algumas mordidas em uma maçã, empurrou a cadeira lustrada da cozinha e se dirigiu ao seu quarto. Descalça, dava passos vagarosos sobre o tapete de estampas persas, sentindo a suavidade do chão e a corrente de ar que entrava pela janela da sala, fazendo seus cabelos dançarem junto com as cortinas, com as vidraças e com as roupas do varal.
Jogou-se na cama. Continuou pensando naquelas pessoas desconhecidas enquanto o sol continuava a se despedir da praia pelas montanhas. 
A campainha tocou.
A voz de um rapaz foi ouvida.
Suas pupilas, rodeadas pela íris azul-turquesa do mar, dilataram.
Aqueles rostos apareciam com mais frequência.

- Será?

Ela levantou-se de seu descanso de cerca de 1 hora. Apressadamente se dirigiu à cozinha. Quase escorregou junto com o tapete persa. À entrada do cômodo pretendido, parou subitamente. A expressão fixou-se como os rochedos de parte das montanhas. A mãe, sorridente, convidou o rapaz a sentar-se à mesa. "Apenas um forasteiro com muita sede!", afirmava o rapaz, de expressão simpática e de aparência jovem. 20 anos, talvez. 

- Desculpe-me, menina! Mal me apresentei. Meu nome é Filipe!

Ela continuou estática. Não poderia ser real. Não poderia mesmo! 

- Você está bem, menina?
- Sim. Caroline. Meu nome.

"Não pode ser real. Será que eu já o vi antes? Essa é a razão de a sua face e a de outros virem à minha mente?".
A mãe percebeu a inquietude da menina, denunciada pela baixa frequência em que piscava os olhos, pela fixidez com a qual ela dirigia o olhar para o rapaz e pelo escasso repertório para uma conversa, diferente do comum em relação à jovem garota.
Assim se foi um fim de tarde. E o forasteiro pediu por um pernoite, prometendo um serviço de compensação no dia seguinte.
A lua tomou o lugar do sol. Quando os habitantes da cidade fecham os seus olhos, o céu resolve abrir as suas infinitas janelas. As estrelas adornam a atmosfera celestial junto com a grande e alva pérola celeste e lunar. A luz branca envolve toda a cidade, a floresta e as montanhas, a praia e o mar. A cidade se transforma num refúgio silencioso da paz, com um brisa constante e suave vinda do mar, o aroma misterioso das florestas e a força e magnitude das montanhas.
Caroline levantou-se no meio da noite. A lua a atraía de maneira inexplicável. Somente com uma camisa comprida e tão leve quanto o vestido, com roupas íntimas e chinelo, resolveu ir à varanda, acima do telhado, contemplar a lua procurar respostas para aquilo que a deixou inquieta no café da tarde.
Passou pela cozinha, dessa vez iluminada pelo reflexo da lua no mar, para pegar um copo d'água. Abriu o armário, que fez um som de madeira envelhecida, e procurou o copo que costumava pegar. Lançando à mão dentro do armário, os copos de vidro criavam uma melodia que ornava com o som que o mensageiro de vento fazia perto do portão de casa. Abriu a torneira e encheu o copo até a metade. 
Saiu de casa a passos curtos. Subiu nas escadas dos fundos da casa, que dava de frente para um pequeno matagal. As árvores continuavam a dançar e a cantar com o vento, e as suas sombras, lançadas ao chão pela luz da lua, pareciam escrever no quintal de casa memórias que seriam apagadas no dia seguinte. Com muito cuidado para não derrubar a água, ela dava um pequeno passo por vez, até chegar à varanda acima do telhado.

- O quê? O que você está fazendo aqui?


O copo d'água caiu do telhado para o gramado do quintal, fazendo um barulho abafado. Por sorte, não quebrou. Ainda esperando uma resposta do rapaz, com o plano de fundo do mar iluminado pela lua, ouviu o seguinte:

- Eu me lembro muito bem de você. Mas, pelo visto, depois da última batalha, os meus planos funcionaram. Você já não lembra mais de nada. 

Muito confusa, ela colocou as mãos na cabeça com cara de espanto. O fato de não conseguir lembrar a deixava com um pouco de medo. Ele, contudo, pediu que ela se aproximasse para que eles pudessem conversar mais. Apesar do medo, ela ainda estava curiosa. De súbito, ele pegou na mão dela e a aproximou do corpo dele.

- Eu voltei para pedir a tua ajuda. Tá pronta pra mais uma viagem?

A lua pareceu brilhar mais. Do matagal percebeu-se um barulho. 
Esse é o início de um plantio de memórias novas e de um resgate de memórias originais.

CONTINUA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário